O Estigma: o outro inimigo invisível das máscaras
Recentemente, não só enquanto médico mas também como membro da comunidade, tenho-me deparado com um grande obstáculo ao uso generalizado de máscaras: o ESTIGMA da sua utilização. Conversando com amigos e familiares, tenho-me apercebido de casos de pessoas que não utilizam a máscara porque "mais ninguém estava a usar", "olham para mim de forma desconfiada", "pensam que tenho o vírus", "tenho vergonha de usar", "são quentes e desconfortáveis", entre outras desculpas. Compreendo estes relatos e eu próprio, numa ou outra situação perante olhares desconfiados, tive necessidade de explicar o porquê de estar a usar máscara. O estigma só acontece quando há falta de conhecimento e informação e combate-se facilmente através da aprendizagem e da partilha de factos sobre a COVID-19. Inicialmente, perante a escassez de máscaras e a não recomendação da DGS da sua utilização, era perfeitamente compreensível e razoável a sua não utilização.
Atualmente, perante as novas recomendações e face à disponibilidade crescente do número e tipo de máscaras, temos a oportunidade e a responsabilidade de sermos agentes de saúde pública e de utilizar a máscara de forma correta e o mais generalizada possível. É importante realçar que, de acordo com o conhecimento atual, um indivíduo infetado pode ser transmissor do vírus desde 2 dias antes do início dos sintomas e que, de acordo com vários estudos, os assintomáticos também podem transmitir a infeção.
A correta utilização da máscara é, não só um ato de responsabilidade, altruísmo e civismo, mas também uma medida de saúde pública fundamental. Torna-se imperativo pôr estes (pre)conceitos de lado e encarar a utilização das máscaras como um acto natural, que cada vez mais vai fazer parte do nosso quotidiano. As máscaras combatem a disseminação do vírus e nós podemos combater o estigma associado à utilização das mesmas! Sem estigma usam-se mais máscaras e com mais máscaras protegemo-nos melhor! Juntos vamos ultrapassar isto melhor e, quanto mais rápido começarmos, mais depressa acabamos.
João Sousa
Médico Interno de Medicina Geral e Familiar