Ninho vazio - uma despedida?
A vida é um ciclo de permanente mudança. Nascemos, saímos do conforto paternal, iniciamos uma vida de aprendizagem e ingressamos no mundo do trabalho. Começamos a construir uma família. Na maioria das situações, todas essas etapas são alvo de um ensino e de uma preparação prévios... Há, contudo, uma fase para a qual ninguém é preparado. Chega uma altura na vida de um casal, de um pai, de uma mãe, em que têm de assistir à autonomização dos seus filhos, em que estes começam a sair de casa para construir a sua própria vida. Este momento, o também chamado "ninho vazio", é uma fase importantíssima na vida de uma família. Por um lado, os filhos olham para um futuro de sonhos, projetos e esperanças de concretizações; por outro, há um lar que fica reduzido ao casal, que tem de aprender a viver uma nova vida, a dois, após décadas em que os filhos foram o centro da vida familiar.
É frequente, mesmo natural, o sentimento de "vazio", de tristeza, de sofrimento, de abandono, de inutilidade, pela noção de perda. O dia-a-dia deixa de funcionar em torno daquele filho, a conta do supermercado reduz-se, a casa fica mais arrumada. Talvez "arrumada demais"... surge a saudade. É fundamental estar-se preparado para esta etapa da vida. É, acima de tudo, natural e há várias estratégias para que cada pessoa, individualmente, e cada casal, em conjunto, aprendam a lidar com este desafio e a usufruir deste momento!
Um filho independente é sinal de uma educação forte e de uma base sólida, proporcionada pelos pais, para continuar a crescer. Cada pai e mãe deve recordar-se da liberdade e da realização sentidas aquando da sua própria saída de casa e ver isso nos seus filhos. Atualmente, a tecnologia permite um contacto quase permanente, a distância deixou de ser um entrave à comunicação. É importante manter o contacto, conversar, falar acerca do dia-a-dia. É, também, uma oportunidade excelente para encontrar novas atividades, adiadas ao longo de anos; desporto, jardinagem, passear, voluntariado, reaprender a viver... e viver a dois!
O papel de mãe e de pai não acaba com a saída dos filhos de casa. Transforma-se! São uma presença permanente, com a porta sempre aberta, pois, no fundo, nunca é, nunca foi, um "adeus". Apenas um "até já"!
Pedro Sousa
Médico Interno de Medicina Geral e Familiar