COVID-19 e testes serológicos: devo fazer?
No dia 11 de Março de 2020 a Organização Mundial de Saúde declarou a doença COVID-19 como pandemia mundial. Atualmente, enquanto se segue uma estratégia de desconfinamento gradual, continuam em vigor medidas que asseguram uma resposta rápida à doença, com identificação precoce de casos e o respetivo diagnóstico laboratorial.
A Direção Geral da Saúde recomenda que o diagnóstico de novos casos de COVID-19 deve ser realizado somente com recurso a testes de deteção de componentes do vírus e não através de testes serológicos. Os testes de deteção de componentes do vírus são habitualmente realizados através da colheita de secreções do sistema respiratório, com recurso a uma zaragatoa introduzida na região nasal e na boca. Por outro lado, os testes serológicos detetam anticorpos contra o vírus e são produzidos pelo organismo como resposta à infeção. Estes testes são feitos usando amostras de soro, sangue ou plasma.
Como qualquer exame que é pedido a um doente, os resultados dos testes laboratoriais devem ser integrados com a história clínica e com o seu contexto epidemiológico.
Atualmente os anticorpos possuem uma utilidade clínica limitada, sendo que estes testes estão a ser utilizados em estudos epidemiológicos populacionais e de investigação, como é o caso do Inquérito Serológico Nacional COVID-19 que decorreu com o propósito de monitorizar a imunidade contra o SARS-CoV-2 na população portuguesa e cujos resultados preliminares brevemente serão conhecidos.
Em suma, a evidência científica disponível não permite saber se a deteção de anticorpos confere uma imunidade ou proteção aos indivíduos, nem quanto tempo esta durará. Dado que resposta do nosso organismo à COVID-19 ainda não é totalmente compreendida, e ainda não conhecemos muitos dados definitivos sobre o pós-infeção, não deve realizar testes serológicos sem indicação médica para tal.
João Pedro Araújo
Médico Interno de Medicina Geral e Familiar