A nossa primeira preocupação é com a sua saúde: os riscos dos exames de rotina

09-07-2019

Enquanto médico de família, uma das minhas primeiras prioridades cada vez que acolho um paciente na consulta é tentar perceber o motivo que traz o paciente à consulta. Os motivos são muito variados. Umas vezes, é uma doença aguda, outras, uma dor ou outro sintoma que se arrasta. Mas, também ocorre com muita frequência os pacientes virem à consulta sem qualquer queixa e aí dizem-me algo do género "Sr. Dr., venho para uma consulta de rotina", "venho para fazer um check up", "quero saber se está tudo bem comigo" ou até "quero fazer aquelas análises para saber que não tenho cancro".

Felizmente, a medicina e a ciência oferecem-me, no presente, muitas possibilidades de ajudar quem está doente. Contudo, não colocam à nossa disposição muitas ferramentas para beneficiar quem se encontra já de boa saúde. Ora, é precisamente este o caso daqueles pacientes que vêm à consulta para fazer exames de rotina ou para fazer o famoso "check up". Eu sei que o caro leitor vai ficar algo admirado com isto que estou a escrever, mas a verdade é que muitos daqueles exames de rotina (p.ex. TAC, raios X, análises para se ver se tem cancro) podem até causar mais dano à sua saúde do que benefício.

Para o ajudar a compreender melhor o dano que pode ser provocado por análises ou exames usados inapropriadamente, vou usar o exemplo dos medicamentos. A generalidade dos cidadãos sabe que os medicamentos não são perfeitos e que devem ser usados com alguns cuidados, em situações clínicas concretas e que podem provocar efeitos adversos. Pois bem, os exames médicos (TAC, raio X, análises, etc) também não são perfeitos e também podem provocar efeitos adversos. Dou-lhe alguns exemplos desses efeitos adversos: podemos obter resultados falsos, podemos diagnosticar doença que nunca provocaria problemas à saúde das pessoas, podemos transformar pessoas saudáveis em doentes desnecessariamente, podemos causar sofrimento físico e psicológico duradouro.

Como médicos de família, a nossa primeira preocupação é o bem-estar e a saúde da pessoa que estamos a cuidar. Por isso, quando lhe desaconselhamos realizar certas análises, certos exames de rotina, não é para poupar dinheiro ao Estado, mas porque achamos que a probabilidade desses exames fazerem mal à sua saúde é maior do que a probabilidade desses exames lhe fazerem bem. Zelar pelas finanças do Estado é um dever de todos os cidadãos, mas está longe de ser a nossa primeira preocupação enquanto médicos de família. A nossa primeira preocupação é com a sua saúde.

          Carlos Martins

          Médico de Família

          Professor Auxiliar da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto

Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora